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Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). — Foto: Getty Images via BBC / Por G1
 

05 de agosto de 2025 - Economia

A decisão tomada por Alexandre de Moraes na segunda-feira representou um duro golpe nos esforços em andamento, e o governo de Donald Trump já se posicionou contra a medida.

“Impor ainda mais restrições à liberdade de Jair Bolsonaro para se defender publicamente não é de interesse público. Permitam que Bolsonaro se manifeste! Os Estados Unidos repudiam a decisão de Moraes que determinou prisão domiciliar ao ex-presidente brasileiro e prometem responsabilizar aqueles que colaboram ou incentivam essa medida”, afirmou o Escritório para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado dos EUA, por meio de uma publicação na rede X (antigo Twitter).

Apesar disso, o governo brasileiro não fez pronunciamentos oficiais sobre o caso. A orientação entre ministros segue a mesma adotada nas últimas semanas: evitar declarações que possam gerar atritos e comprometer as negociações com os norte-americanos.

De acordo com uma fonte do governo ouvida pela BBC News Brasil, sob condição de anonimato, a estratégia é manter o diálogo com os Estados Unidos na tentativa de reverter ou, ao menos, amenizar os impactos do aumento de tarifas sobre produtos brasileiros, previsto para entrar em vigor na próxima quarta-feira (6/8).

Especialistas consultados pela BBC News Brasil demonstram opiniões divergentes sobre o possível impacto da prisão de Bolsonaro nas relações diplomáticas e comerciais entre Brasil e Estados Unidos.

Cenário político e comercial

Para Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), não há indícios de um movimento real de aproximação política entre os dois países. Nesse contexto, a medida judicial contra Bolsonaro pode gerar ainda mais pressão por parte dos Estados Unidos.

Por outro lado, Hussein Kalout, conselheiro do Cebri e professor da Universidade de Harvard, acredita que a prisão domiciliar do ex-presidente não deve influenciar diretamente as tratativas comerciais.

"Os EUA estão focados em seus próprios interesses econômicos. Bolsonaro, nesse contexto, é apenas uma peça política passageira. Quando elaboraram a lista de produtos isentos do tarifaço, fizeram isso considerando o que é relevante para suas empresas e consumidores, e não com base na situação legal do ex-presidente", explicou Kalout.

Essa lista de exceção tarifária, divulgada na semana anterior, inclui cerca de 700 itens brasileiros que não serão afetados pela nova taxação. Segundo dados preliminares da Amcham (Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos), essas exceções representam aproximadamente 42% das exportações brasileiras para os EUA.

Jana Nelson, especialista em Relações Internacionais pela Universidade de Georgetown e ex-subsecretária de Segurança e Defesa no Pentágono para a América Latina, também considera que a decisão judicial envolvendo Bolsonaro não muda, de forma relevante, a percepção de Trump sobre o caso.

“Do ponto de vista de Trump, tudo continua como antes. Ele já via o Bolsonaro como alvo de perseguição judicial, baseado na própria experiência pessoal. O andamento do processo não deve interferir nas futuras negociações comerciais, até porque essas conversas ainda nem começaram”, disse Nelson à BBC News Brasil.

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